Esses dias tive pensando numa velha história que contam dos tempos de Catarina II da Rússia. Coisas de 1763...
Conta-se que Potemkin, um poderoso chanceler de Catarina, sofria de profundas depressões, durante as quais ninguém podia se aproximar dele. No Palácio ninguém falava sobre o fato, porque isso desagradava a imperatriz. Mas uma dessas depressões foi particularmente longa. Os documentos começaram a se acumular, as decisões urgentes do governo eram adiadas, papéis ficavam sem sua assinatura e Catarina II pedia urgência. Os assessores e altos funcionários não sabiam o que fazer.
Um dia, nesta ocasião, o modesto funcionário Chuvalkin chegou à sala onde os assessores se encontravam reunidos, como de costume, apenas para se lamentarem.
__ Que está acontecendo, senhores? perguntou.
Explicaram-lhe a situação, mostrando-lhe que nada se podia fazer.
__ Se é apenas isso, senhores, peço-lhes que me dêem os papéis; respondeu Chuvalkin.
Os assessores, que nada tinham a perder, concordaram e nosso funcionário, com um maço de documentos, dirigiu-se até o quarto do chanceler. Sem bater à porta nem deter-se, pôs a mão no trinco. A porta não estava trancada.
Na penumbra, Potemkin permanecia sentado na cama, metido num velho roupão, roendo as unhas. Chuvalkin aproximou-se e, sem dizer palavra, colocou-lhe a caneta na mão, tomou um dos documentos ao acaso, e pôs sobre os seus joelhos. Após lançar um olhar ausente ao visitante, Potemkin foi assinando um a um todos os documentos. Ao terminar, nosso funcionário retirou-se vitorioso. Agitando os papéis, entrou no gabinete. Os assessores se precipitaram, tomando-lhe os documentos. Contendo a respiração, inclinaram-se sobre os papéis. Ninguém disse uma palavra sequer. Ficaram paralisados. O exultante funcionário aproximou-se e, então, seus olhos viram: um documento após outro estava assinado: “Chuvalkin, Chuvalkin, Chuvalkin!...”
Apresento este caso porque revela, de modo original, o quanto podemos fazer por quem precisa de nós e o quanto deixamos de fazer por nosso medo ou covardia. Dizem que, a partir daí, o chanceler Potemkin ficou curado.Bem que podíamos ser um Chuvalkin!
terça-feira, 17 de novembro de 2009
JAMAIS ESQUECI “TIA” HELENA
Aos 7 anos comecei estudar na Escola de Vila Amazonas, administrada pela ICOMI, e lá encontrei pela primeira vez a professora Helena. Ou, para as crianças traquinas e meio mimadas que éramos, Tia Helena.
Tia Helena era um misto de professora durona e maternal. Era uma pessoa de dedicação incansável. Sempre muito carinhosa, competente e disciplinadora, mantinha sua turminha com rédeas curtas, mas sem excessos ou gritarias... Essa mistura de autoridade e ternura foi marcante para mim.
No início, só ia arrastado para o Colégio. Não por preguiça, mas por falta de costume de estar longe de casa e longe de minha mãe. Muitas vezes, Tia Helena chegava para uma sessão de choramingos. Ela sempre estava lá. Nunca falhou!
Conto isso agora, porque essa mistura de dureza e de bom humor que caracterizava Tia Helena me marcou profundamente, fazendo que a tomasse como exemplo para minha vida profissional.
Hoje ouço professores dizerem, com toda franqueza, que não gostam da profissão que escolheram e, o que é pior, detestam seus alunos. Não discuto sobre a decisão deles permanecerem exercendo o Magistério. Apenas não concordo coma decisão e fico pensando o que seria de mim se tivesse caído nas mãos de um deles.
Tia Helena foi diferente. Soube apostar nas suas crianças, mesmo que ninguém apostasse nela. Soube enfrentar com o ânimo o sacrifício da profissão que escolhera. E soube reivindicar, por todos os meios, os direitos legais que tinha, mas sem prejudicar seus alunos.
Hoje, olho para mim e digo a mim mesmo: Que professor sou eu? Teria dificuldade de explicá-lo aos outros. Mas sei que se um professor não aposta num futuro brilhante para seu aluno, então não adianta guardar na gaveta o diploma que recebeu. Não tenho o direito de reprovar um aluno, se não luto para que ele também tenha uma vida feliz. Como não querer para os outros o que eu tenho? Uma casa, água de torneira, chuveiro, mesa, cadeira e cama... E, se passo fome, é porque me atraso ou me descuido, porque comida eu tenho. Nos dias frios eu tenho bons agasalhos. No verão eu até posso pegar um carro e ir uns dias a um balneário. Como não querer este mínimo conforto para todos?Sem exagero nenhum, aprendi ser o professor que sou observando Tia Helena. Eu não caí no Magistério de pára-quedas. Eu tenho raízes. Uma delas são os exemplos deixados por Tia Helena, que acreditou no menino humilde que eu era, e em deu a chance de desenvolver os meus valores.
Tia Helena era um misto de professora durona e maternal. Era uma pessoa de dedicação incansável. Sempre muito carinhosa, competente e disciplinadora, mantinha sua turminha com rédeas curtas, mas sem excessos ou gritarias... Essa mistura de autoridade e ternura foi marcante para mim.
No início, só ia arrastado para o Colégio. Não por preguiça, mas por falta de costume de estar longe de casa e longe de minha mãe. Muitas vezes, Tia Helena chegava para uma sessão de choramingos. Ela sempre estava lá. Nunca falhou!
Conto isso agora, porque essa mistura de dureza e de bom humor que caracterizava Tia Helena me marcou profundamente, fazendo que a tomasse como exemplo para minha vida profissional.
Hoje ouço professores dizerem, com toda franqueza, que não gostam da profissão que escolheram e, o que é pior, detestam seus alunos. Não discuto sobre a decisão deles permanecerem exercendo o Magistério. Apenas não concordo coma decisão e fico pensando o que seria de mim se tivesse caído nas mãos de um deles.
Tia Helena foi diferente. Soube apostar nas suas crianças, mesmo que ninguém apostasse nela. Soube enfrentar com o ânimo o sacrifício da profissão que escolhera. E soube reivindicar, por todos os meios, os direitos legais que tinha, mas sem prejudicar seus alunos.
Hoje, olho para mim e digo a mim mesmo: Que professor sou eu? Teria dificuldade de explicá-lo aos outros. Mas sei que se um professor não aposta num futuro brilhante para seu aluno, então não adianta guardar na gaveta o diploma que recebeu. Não tenho o direito de reprovar um aluno, se não luto para que ele também tenha uma vida feliz. Como não querer para os outros o que eu tenho? Uma casa, água de torneira, chuveiro, mesa, cadeira e cama... E, se passo fome, é porque me atraso ou me descuido, porque comida eu tenho. Nos dias frios eu tenho bons agasalhos. No verão eu até posso pegar um carro e ir uns dias a um balneário. Como não querer este mínimo conforto para todos?Sem exagero nenhum, aprendi ser o professor que sou observando Tia Helena. Eu não caí no Magistério de pára-quedas. Eu tenho raízes. Uma delas são os exemplos deixados por Tia Helena, que acreditou no menino humilde que eu era, e em deu a chance de desenvolver os meus valores.
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