terça-feira, 17 de novembro de 2009

PRECISAMOS SER UM CHUVALKIN

Esses dias tive pensando numa velha história que contam dos tempos de Catarina II da Rússia. Coisas de 1763...
Conta-se que Potemkin, um poderoso chanceler de Catarina, sofria de profundas depressões, durante as quais ninguém podia se aproximar dele. No Palácio ninguém falava sobre o fato, porque isso desagradava a imperatriz. Mas uma dessas depressões foi particularmente longa. Os documentos começaram a se acumular, as decisões urgentes do governo eram adiadas, papéis ficavam sem sua assinatura e Catarina II pedia urgência. Os assessores e altos funcionários não sabiam o que fazer.
Um dia, nesta ocasião, o modesto funcionário Chuvalkin chegou à sala onde os assessores se encontravam reunidos, como de costume, apenas para se lamentarem.
__ Que está acontecendo, senhores? perguntou.
Explicaram-lhe a situação, mostrando-lhe que nada se podia fazer.
__ Se é apenas isso, senhores, peço-lhes que me dêem os papéis; respondeu Chuvalkin.
Os assessores, que nada tinham a perder, concordaram e nosso funcionário, com um maço de documentos, dirigiu-se até o quarto do chanceler. Sem bater à porta nem deter-se, pôs a mão no trinco. A porta não estava trancada.
Na penumbra, Potemkin permanecia sentado na cama, metido num velho roupão, roendo as unhas. Chuvalkin aproximou-se e, sem dizer palavra, colocou-lhe a caneta na mão, tomou um dos documentos ao acaso, e pôs sobre os seus joelhos. Após lançar um olhar ausente ao visitante, Potemkin foi assinando um a um todos os documentos. Ao terminar, nosso funcionário retirou-se vitorioso. Agitando os papéis, entrou no gabinete. Os assessores se precipitaram, tomando-lhe os documentos. Contendo a respiração, inclinaram-se sobre os papéis. Ninguém disse uma palavra sequer. Ficaram paralisados. O exultante funcionário aproximou-se e, então, seus olhos viram: um documento após outro estava assinado: “Chuvalkin, Chuvalkin, Chuvalkin!...”
Apresento este caso porque revela, de modo original, o quanto podemos fazer por quem precisa de nós e o quanto deixamos de fazer por nosso medo ou covardia. Dizem que, a partir daí, o chanceler Potemkin ficou curado.Bem que podíamos ser um Chuvalkin!

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